A necessidade de inovação na gestão da saúde no Brasil: A situação antes da pandemia

Faz tempo que queria falar sobre a Saúde no Brasil. Comecei a estudar o assunto antes da pandemia chegar, levando milhares de vidas, e empurrar nossa atenção para o estado da Gestão da Saúde Pública no Brasil. Por isso, resolvi escrever relatando alguns aprendizados que tive sobre o sistema no final de ano passado. Já estava evidente que existia uma grande necessidade de inovação.

As previsões sobre o futuro, mesmo sem o Covid 19 estar no nosso radar, eram pessimistas: aumento de pacientes crônicos e a falta de recursos para o setor público. Então, já faz algum tempo que está claro para os políticos e gestores públicos que não haverá recurso suficiente para cuidar de tanta gente se não inovarmos na área da saúde, tanto investindo em tecnologia, como na melhoria dos processos.

O SUS, que é o sistema público de saúde brasileiro, foi criado há pouco mais de 30 anos, pela Assembleia Nacional Constituinte de 1988. De lá para cá ocorreram vários avanços, como a redução significativa da mortalidade infantil. Entretanto, a saúde é o problema mais citado pelos eleitores do país, apontam pesquisas do Ibope de 2019.

Além de ser difícil para um paciente conseguir consultas com especialistas no setor público, aqueles que se consultam emergencialmente no setor privado com a intenção de realizar o procedimento no setor público passam por grandes frustrações. Existe a necessidade de se avançar em uma integração do sistema público com o privado para facilitar a jornada do paciente entre os dois. Vou dar um exemplo abaixo.

Escutei um relato de um palestrante do HIS – Health Innovation Show de 2019. Ele contava que um funcionário dele, que não possui plano de saúde privado, estava com dor abdominal. Não conseguiu atendimento no setor público, por isso foi em uma clínica particular com preços mais populares. A médica suspeitou de apendicite. Ele fez exames e o diagnóstico foi confirmado. Em uma situação assim, o que fazer? A recomendação da médica foi para ele ir a porta de um hospital público e pedir por um atendimento de urgência e emergência.

Ele obedeceu a médica. No dia seguinte estava no hospital, foi atendido e mostrou os exames para o médico que rapidamente concordou que ele estava com apendicite, mas explicou que aqueles exames não serviam ali. Ele precisava refazer os exames para depois fazer o procedimento cirúrgico. Dou logo o spoiler e digo que ele conseguiu sair dessa aventura com vida! Mas não só o Estado arcou com o custo desnecessário de refazer os exames, como o paciente ficou ocupando o equipamento público por cinco dias para resolver tudo e ser operado.

Então, fica claro que o equipamento público poderia estar sendo muito melhor utilizado se houvesse uma maior integração do setor público com o privado. Mais alarmante ainda é a estimativa de redução de custos que a integração traria e que foi apresentada no HIS, pois passa dos R$ 10 bilhões anuais (vale a informação que o orçamento público da saúde de 2018 foi de R$ 280,9 bilhões)

Para que uma integração e interatividade das informações ocorram, é importante a existência do prontuário eletrônico e de uma linguagem de programação pré-definida. Com a Lei Nacional de Proteção de Dados e o advento da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, existe uma chance de que seja possível estabelecer os parâmetros de maior segurança para o armazenamento desses dados. Mas também deve ser analisado se o governo e as autoridades deveriam estabelecer APIs (Interface de Programação de Aplicativos). Afinal, se definir que tem que ter interatividade, mas não definir padrões, soluções diversas, mais baratas, mais rápidas e mais livres podem surgir.

Sempre podemos deixar os assuntos mais técnicos para os mais técnicos, mas gosto de participar para trazer um embasamento de norte, princípios e valores que são importantes para o debate técnico também.

Eu fecho o artigo com minha opinião pessoal de que um diagnóstico e exames carimbados com o CRM ativo de um médico do setor privado deveriam ser suficientes para se realizar um procedimento de emergência e urgência no setor público, sem o desperdício de se refazer exames.

Esse artigo foi originalmente publicado no NotíciaExtra.