“De que adianta ter liberdade, se não tenho acesso? Se não posso escolher ir para Paris quando quiser?”, você me pergunta. Mas é um argumento absurdo, caro amigo.
Se aplico o seu raciocínio a outras liberdades, veja só o que acontece: “De que adianta ter liberdade sexual se não posso escolher o parceiro sexual que quiser? De que adianta ter liberdade política se não posso ser eleito para o cargo que quiser? De que adianta ter liberdade de ir e vir se não posso ir para onde quero?”
O absurdo é evidente: você está confundindo liberdade com direito cósmico.
Liberdade de fazer algo não significa ter a garantia de poder fazer esse algo. A liberdade de ir e vir não vem com um carro ou uma estrada embutida; você tem de ir lá e construir isso.
No fim das contas, isso é só uma tentativa de descrever a igualdade de resultados (comumente autoritária) com o vocabulário benigno da Liberdade, talvez a mais bela palavra de todo o léxico político.
Ter liberdade não significa que a sociedade tenha de se reorganizar para possibilitar as suas escolhas. Quem constrói a cesta de possibilidades, o espectro de opções, são os próprios indivíduos.
É claro que não depende só de esforço; há muita sorte e talento envolvidos também. Nasceu com as pernas do Neymar? Que bom para você, o teu espectro de opções de vida será amplo. Você poderá ir a Paris quando quiser. Recebeu uma herança? Sua gama de opções será mais ampla também, e Paris será logo ali.
Para o resto de nós, se dermos sorte e trabalharmos muito, talvez possamos ir a Paris uma vez-zinha na vida sequer. Ter liberdade não significa, portanto, garantia de acesso. Ter liberdade significa ser livre de coerção. Isso é ser livre: é a base sobre a qual cada um construirá a sua vida.
A partir daí, é a luta diária: você deve prover produtos e serviços aos consumidores, que te remunerarão conforme o valor que você agregar. Quanto mais valor você agregar aos consumidores (conforme avaliado por estes, e não baseado em mero esforço), mais perto de você estará Paris.
Liberdade significa que você é livre para viver e construir sua vida sem coerção, e não para exigir que os demais (e a riqueza dos demais) sejam um instrumento para a realização de seus sonhos. Muito cuidado porque é precisamente esse o caminho da tirania; e ninguém é, como se sabe, livre para tiranizar a vida dos outros.