Eu comecei a frequentar reuniões partidárias ainda vestida de uniforme da escola e decidi disputar a minha primeira eleição aos 22 anos. Enfrentei a urna sem contar com a ajuda de grandes marketeiros ou um mentor experiente. Escrevo esse pequeno manual para pré-candidatas que, assim como eu naquela época, querem muito ser eleitas, mas hoje contam apenas com propósito e raça.
Eu e minha coordenadora de campanha, que segue sendo meu braço direito, éramos jovens e inexperientes, mas contávamos com um livro da RAPS sobre estratégia eleitoral. O livro, somado a muita cara de pau e trabalho incansável, nos ajudou a conquistar suados 3.146 votos. Um número que me rendeu o primeiro lugar no partido, mas não uma cadeira na Câmara Municipal.
Desde aquele domingo de 2016, eu aprendi que não basta apenas gastar suor, saliva e sola de sapato, como costumam dizer. Ganhar uma eleição exige conhecimento técnico. Quatro anos depois, dessa vez com técnica e raça, fui eleita vereadora com mais de 10 mil votos e nossa campanha foi premiada pela melhor estratégia eleitoral do Brasil.
A barreira do “política não é lugar de mulher” vem sendo aos poucos derrubada, mas só vamos mudar a realidade da baixa representação feminina quando mulheres aprenderem a fazer campanhas competitivas. Por isso, não pretendo escrever mais um artigo sobre a hostilidade do ambiente político, como já estamos cansadas de saber.
Esse manual é sobre como você – ou a sua pré-candidata – pode fazer uma campanha eleitoral que realmente tenha chances de vitória nas urnas. Então vamos ao que interessa: aprenda 5 táticas que toda pré-candidata competitiva precisa executar.
- Garanta o apoio da sua rede mais próxima
Se você ainda tem dúvida de por onde começar, comece pelo que tem em mãos. Seus amigos, familiares, parceiros, colegas de trabalho, da escola, da faculdade… as pessoas que te conhecem e sabem da sua credibilidade devem ser as primeiras a saber que você será candidata.
Em tese, esse é um voto menos difícil de ser conquistado, já que essas pessoas têm alguma predisposição a ouvir suas ideias. O vínculo pessoal inclusive pode render apoiadores altamente engajados na sua campanha. Além disso, a pior coisa é ouvir de um amigo que ele vai votar em outro candidato porque “pediu primeiro”.
- Conte sua história de um jeito inspirador
Como pré-candidata, um dos seus principais desafios é ser lembrada pelos eleitores. Você vai precisar contar a sua trajetória de um jeito inspirador. Para isso, use como referência a jornada do herói, uma estrutura narrativa presente em diversas histórias marcantes, do Hércules ao Super Homem.
De maneira resumida, essa narrativa é composta por: o chamado para a ação, as provações, o desafio principal e a recompensa. Relate a sua própria história usando esses marcos para tornar o seu discurso mais interessante e memorável. Para entender melhor essa tática, busque o livro O Herói de Mil Faces de Joseph Campbell.
- Transforme seguidores em apoiadores
Um dos maiores riscos de quem faz campanha digital nos dias de hoje é confundir engajamento em rede social com resultado nas urnas. Foque menos em métricas de vaidade (seguidores, curtidas, retweets) e mais em converter o seu seguidor em apoiador da sua campanha.
É claro que ter um número grande de seguidores é importante, afinal, essas pessoas são uma audiência em potencial. Mas o “em potencial” dessa frase é muito importante. Só se pode confiar que um seguidor é um voto quando esse apoio foi declarado a você.
- Estabeleça uma meta de doações financeiras
Com estratégia digital, é possível gastar muito menos do que candidatos tradicionais gastam. Mas uma campanha realmente competitiva vai precisar de material impresso, anúncio em rede social, equipe contratada e etc. Portanto, monte seu orçamento de campanha e divida seu alvo de arrecadação em metas menores.
Parte dos seus recursos pode vir da vakinha, por doações pequenas (R$ 30 até R$ 1.000), mas não se esqueça de buscar doações de médio ou grande porte, que garantam fôlego ao seu projeto. E lembre-se: a doação nada mais é do que um voto de confiança. Quanto mais credibilidade e autoconfiança você passar, mais chances de conquistar doadores.
- Fale a língua do seu eleitor
Você pode até defender pautas super relevantes e urgentes, mas se não usar a linguagem que o seu público entende, vai ficar falando sozinha. Só que falar a língua dos seus eleitores vai além de usar os canais e as gírias que eles usam, é preciso responder às suas necessidades.
Em palavras simples, não adianta tentar vender carne para vegano. Você precisa entender de maneira realista quais são as dores e os desejos do seu público. O próximo passo é mostrar como as suas ideias solucionam a dor ou satisfazem o desejo do seu eleitor.
Eu vivi na pele os desafios de ser mulher na política e de ser novata em campanhas. Errei e acertei, sorri e chorei. Tenho certeza de que esse processo abriu portas não apenas para a minha própria vitória, mas também para que outras mulheres possam aprender com os meus erros e se inspirar nos meus acertos.
Você pode ser a próxima eleita a ajudar outras mulheres a serem competitivas! Por isso, se você pretende ser uma candidata competitiva, se capacite e aprenda a fazer uma campanha com estratégia. A raça nós já temos.