Nada é tão ruim que não possa piorar

“Não tenho compromisso com o erro”. É com esta frase que Ribeiro lembra que o Brasil é um Estado laico, e que ele como ministro da Educação deveria se preocupar com uma educação inclusiva e respeitosa, que acolha a todos. O grande problema é que o governo Bolsonaro, através de Milton, pastor presbiteriano, estava utilizando a educação pública e laica, garantida pela Constituição Brasileira, como um artifício para privilegiar cidades indicadas por pastores aliados do Governo. As denúncias foram assustadoras! Podemos dizer claramente que o Governo Bolsonaro aparelhou o Ministério da Educação com líderes religiosos protestantes; líderes esses que chegavam a pedir um quilo de ouro a prefeitos para que dinheiro público chegasse às suas cidades.

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que é pastor evangélico, demonstrou durante a sua passagem no Ministério uma resistência enorme com a diversidade e com a laicidade do Estado Brasileiro, resistência essa que ficou evidente com os escândalos que levaram à queda de Ribeiro. Além de transformar o Ministério da Educação em um “clubinho” de troca de favores entre pastores, Milton demonstrou um profundo desconhecimento sobre o papel da educação pública brasileira. Sempre foi possível notar, em falas do ex-ministro, o desrespeito com a diversidade de gênero e de orientação sexual através de um evidente fundamentalismo religioso. Milton Ribeiro afirmou, em setembro de 2020, que jovens homossexuais são resultado de famílias desestruturadas, fala que eventualmente o tornou réu no Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, inclusive, o ministro usou “homossexualismo”, um termo pejorativo, uma vez que o sufixo “ismo”, relacionado a doenças, tornou-se inadequado para tratar da população LGBTI+  quando as relações homoafetivas deixaram de ser consideradas doença, na década de 70.

No início de março, o ex-ministro proferiu falas que ferem as pessoas trans, ao afirmar que a conscientização de crianças acerca da existência da condição trans seria algo errado. Milton ignorou a existência de crianças trans e do preconceito que sofre a população LGBTI+ no ambiente escolar. Além disso, demonstrou profunda ignorância sobre o assunto ao afirmar que falar sobre transexualidade nas escolas para as crianças seja um incentivo para que as mesmas se submetam a essa identidade.

O ex-ministro da Educação deixou clara a sua falta de fé na educação e na construção de cidadãos no ambiente escolar por meio das falas que proferiu. A importância da conscientização através da educação é algo defendido desde a Antiguidade. o século VI a.C., o filósofo grego Pitágoras afirmava que “educando as crianças, não se é necessário punir os homens”. É inacreditável que um ministro da Educação seja incapaz de perceber a importância do papel da sua pasta na transformação social e cultural.

Ao contrário do que se esperava, Milton tratava as pessoas trans como um erro e como algo a ser ignorado, descartando a necessidade de combater a discriminação através da instrução de que o diferente existe na sociedade e merece respeito, compreensão e acolhimento. Para Ribeiro, o papel da Educação Brasileira era servir aos interesses dos seus amigos pastores. As pessoas trans e os LGBTI+ nunca pediram por aulas de como se tornar um(a) trans, ou gay, ou lésbica nas escolas. O que se espera é que as escolas cumpram o seu papel de mostrar que a população LGBTI+ existe, inclusive dentro da escola, entre os próprios alunos, e que merece respeito. Da mesma forma que se espera que um Ministério com a relevância que tem o da Educação se porte de forma isenta à ideologias e religiões e que se porte de forma coerente à formação da população brasileira: de forma plural.

A saída de Ribeiro da pasta da Educação após os escândalos e as falas absurdas pode não ser algo a se comemorar. O Governo Bolsonaro tem oscilado entre extremismos ideológicos e extremismos religiosos dentro do Ministério que é responsável pela formação dos nossos jovens. Com a renúncia de Milton deve-se acender um alerta, afinal, no atual governo, nada é tão ruim que não possa piorar.


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